segunda-feira, 7 de junho de 2010

Hoje…não vou à escola!

Uma escola a reboque da sociedade, alicerçada em métodos e processos antiquados, completamente desactualizados, não cumpre o seu papel. A Escola actual deve ser criativa, inovadora, inclusiva e educadora, fornecedora de “ferramentas” que promovam a autonomia e ajudem à cidadania.
“Imobilizarmo-nos” num determinado tipo de Escola fechada ao exterior, em nome da tradição, seria quanto a mim um grave erro, porque os tempos são de mudança constante e a Escola não pode ser alheia a esta realidade, sob pena de se extinguir. A imaginação não deve ter limites quando nos pomos a “magicar” sobre a escola dos nossos dias e do futuro. Em minha opinião, devem ser bem recebidas todas as ideias, desde as aparentemente menos às aparentemente mais sensatas, mas atenção: desde que alicerçadas em patamares de exigência que se coadunem com a complexidade da vida actual. Habituar as crianças a serem mentalmente preguiçosas é (para mim) crime! Premiar a preguiça física e mental é duplo crime!

Consciente de que a Escola perfeita não existe nem vai existir, porque os seres humanos que nela coabitam nunca serão imunes ao erro, não partilho da opinião daqueles que criticam a Escola por passar o tempo a fazer experiências. Critico, sim, o facto de a Escola passar demasiado tempo em experiências que dinamizam o facilitismo, premeiam a preguiça e promovem o desrespeito.
Penso que muito de bom se tem feito na (e pela) Escola nestas últimas décadas, contrariamente à opinião de muitos, que por não quererem ver os problemas que resultam da sua democratização, se fixam apenas nos “defeitos” e ficam cegos prás virtudes….
O que eu não consigo compreender são as razões que recomendam que sejam tratados da mesma forma os alunos que estudam, são assíduos e se empenham e aqueles que não estudam e se “borrifam para as aulas, para os professores, para as regras… para tudo o que não seja da sua absoluta e real gana!

O alargamento da escolaridade até ao 12º ano parece-me ser uma medida de grande alcance social, que ajuda a combater a exclusão e a preparar os nossos jovens para a vida, mas as passagens “administrativas” que desvalorizam a frequência regular da Escola e a acção dos professores não podem passar incólumes… É preciso ponderar e saber resistir à pressão dos cábulas e seus familiares, e não enveredar pelo caminho mais fácil, de “condenar” os professores. (ou professorzecos como lhe chamou alguém de má memória) e “dispensar” os alunos de ir à Escola sem motivo válido.

Os sucessivos governos (não sei se pelo facto de alguns dos seus “altos vultos” serem um pouquinho avessos ao estudo quando eram mais pequeninos) têm “delapidado” a importância de frequentar a escola assiduamente e a autoridade dos professores…
A possibilidade, agora anunciada, de passagem do 8º ano para o 10º para alunos de 15 ou mais anos, é mais um testemunho dessa desvalorização, pois alguém que considera normal que um aluno de 15 anos que está no 8º ano possa passar num exame de 9º, e transitar para o 10º ano, só pode suportar a sua tese na incompetência ou má fé dos conselhos de turma (onde participam todos os professores da turma e representantes dos alunos e dos pais) que chumbam os alunos que”até” sabem, por mero prazer… (também há aquela “enormidade” do exame do 9º ano vir a ser “adaptado” à nova realidade, mas essa hipótese é ainda mais revoltante)

Com procedimentos deste “ baixo quilate”, começo a acreditar que um dia destes vai ser possível que alguém, que não saiba ler, escrever e contar, possa matricular-se numa qualquer faculdade, e, começo, também, a perceber melhor os motivos que levam a “nata política” (que nos brinda com estas “inovações”) a matricular os filhotes “noutras Escolas”… Nos dias em que estou de mau humor, como hoje, chega-me a passar pela cabeça que o objectivo é “semear o facilitismo e salvaguardar os nossos”, diminuindo assim a concorrência, através da menor competência de quem “embarca” na negligência…

Oh Senhora Ministra: Se o objectivo é “queimar” a Escola pública, “dispense”, de uma vez por todas, os professores do 1º, 2º, 3º Ciclos e Secundário e, por decreto, estabeleça as regras para ser licenciado, mestre ou doutor sem ter que passar pela chatice de, enquanto criança, adolescente ou jovem, ter que estudar e ir à Escola. Até aos quinze anos deixe brincar os meninos e as meninas e depois dos quinze, para não os traumatizar, deixe-os prosseguir nessa caminhada!
E não se esqueça: - Meta os (malvados) professores na linha, porque os alunos (clientes) têm sempre razão!
Cá por mim, hoje não vou à (sua) Escola!

3 comentários:

  1. Por curiosidade, e para saber se estamos a falar com os mesmos pressupostos, o que achas que "muito de bom se tem feito na (e pela) Escola nestas últimas décadas" (sic) ?

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  2. Na escola muito de bom aconteceu pela acção dos professores que souberam distinguir os verdadeiros interesses dos alunos da situação desprestigiante em que os colocaram. Basta ver alguns projectos incarnados por algumas escolas.
    Pela escola, saliento o esforço feita na construção e renovação do parque escolar e a tentativas de alguma descentralização que foi mal negociada , designadamente por algumas autarquias, tendo sido assumida por outras.

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  3. Ahhhhh, por momentos pensei que te estavas a referir a (boas) coisas emanadas das sucessivas equipas do ME. Afinal, estás a referir-te a carolice ... a "amor à camisola" que muitos (ainda) possuem. É que me fartei de puxar pela cabeça, e não encontrei assim nada de bom.... quer dizer, as ideias até podem ser boas, mas a sua execução ou concretização deixam muito a desejar, o modus operanti continua típico de quem não sabe nada do que se passa no terreno.

    Quanto ao parque escolar, a ver vamos .... ainda a procissão vai no início e desconfio que que é mais outra manobra de delapidação, mas pelo menos, as condições físicas de muitas escolas estão a melhorar, beneficiando toda a comunidade escolar.... vamos ver a que preço....

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