No dia em que Gaspar apareceu de cu para o ar…
Contava a minha avozinha que
em certo lugar recôndito, lá para as bandas da serra de S. Macário, vivia um
rapazinho chamado Gaspar, simplório e violento, que não dava tréguas aos
habitantes da aldeia… tais e tantas eram travessuras e patifarias que lhes
fazia.
Insensível, matreiro e
mentiroso era um verdadeiro flagelo que perturbava constantemente a pacatez
daquelas pessoas trabalhadoras e sérias. Chantageava aquela modesta e ordeira
gente exigindo-lhe uma significativa parte das colheitas, a troco de não
concretizar a ameaça de destruição total das sementeiras.
Beneficiava da proteção de um
opulento proprietário, pelo que as pessoas tinham medo de o enfrentar e, por
causa disso, iam tolerando as suas diabruras…
Mas… certo dia, ao cair da
noite, quando regressava a casa sorridente, depois de ter cometido diversos
abusos, foi interpelado por um grupo de habitantes que haviam combinado
sair-lhe ao caminho para um “pedido de explicações”, para o “conto vigário” de
que haviam sido vítimas.
Perante a sua recusa, um deles
pediu-lhe que baixasse as calças (como ele ordenava aos mais fracos) e ficasse
de cú pró ar… Depois de, sem êxito, os tentar fazer cair em “novo logro” acatou
o pedido, tendo permanecido toda a noite nessa posição, por exigência dos
aldeãos que não arredaram pé!
De manhazinha os que saíram de
casa para os campos, ao verem aquele “espetáculo” rocambolesco gritaram em
uníssono: - Olhem o Gaspar de cú pró ar!
Sem demoras, um deles colocou-lhe
um cravo no cú, enquanto outro lhe amarrava umas latas velhas à cintura, de
forma que quando corresse, elas lhe batessem no dito.
Um outro informou-o que ia
contar até três, para que se pusesse às de Vila Diogo…
Ainda a contagem ia no “um” e
já o Gaspar corria desalmadamente rua abaixo, a uma velocidade estonteante, à
procura de um caminho que o levasse para bem longe dali…
A história termina com o seu
desaparecimento definitivo da aldeia, que passou a ter paz e sossego.
Todos ficaram muito felizes, e
em dias festivos ouve-se cantar nas ruas:
No manhã em que o Gaspar
Apareceu de cu para o ar
Depois de noite de Lua cheia…
Foi uma festa na aldeia!
Passou a haver sossego
Acabou o medo
Voltou a alegria
… foi um grande dia!
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