segunda-feira, 4 de abril de 2011

Não se bate nos mortos…

O papel algo esquisito (para mim) dos nossos sindicatos transparece da sua actuação no período (difícil) que vivemos… A Lei sindical, que permite que alguns fidalgos vivam à grande e à francesa à custa do erário público, é uma ofensa para quem trabalha todos os dias (e não quando apetece) e ultrapassa, nalguns casos, as normas de bom senso… O papel dos sindicatos não é derrubar governos… para isso temos os partidos políticos! Convinha que não se esquecessem que o efeito de lutar contra o “imaginário” é muito semelhante ao de falar contra o vento e que a dignificação do trabalho é uma matéria transversal a todas as ideologias Lutar contra o capital de forma genérica e abstracta é pura demagogia… O mundo é demasiado grande para mudar ao mesmo tempo. O capitalismo é apenas uma forma (criticável) de estruturar as relações sociais, com poder reforçado pelo colapso de outras experiências organizativas, aparentemente mais vocacionadas para o bem-estar colectivo… O problema do capitalismo é o DEUS DINHEIRO que não pára de conquistar adeptos cada vez mais esquecidos da sua temporalidade terrena. A luta contra os especuladores capitalistas devia ser apanágio sindical, mas disso vejo muito pouco. As lutas sindicais terminam sempre com proclamações genéricas, vazias de realismo e numa lógica de relações laborais que já não existe. A solidariedade mundial foi chão que (não) deu uvas…Querer acabar com as injustiças no mundo e pouco ou nada fazer relativamente ao que se passa com o nosso vizinho (se for caso disso) é o caminho mais fácil para nada fazer e fingir que fazemos… Claro que quem trabalha por conta de outrem não pode adormecer, se não quando acorda tem que pagar para trabalhar, mas se o trabalho sindical se orienta no sentido de derrubar Governos, os desempregados, os precários, os explorados, etc. podem esperar sentados por melhores dias! Na minha perspectiva, quiçá pouco informada, as lutas têm que desenvolver-se em cada País, de acordo com a realidade existente, sem olhar à cor dos governos em funções. Se estivermos à espera que, por exemplo, a Alemanha (País rico e próspero) seja solidária com Portugal (País pobre e em recessão), estamos a deixar-nos iludir com a possibilidade de Países ricos (e seus sindicatos) sobreviverem sem Países pobres (e trabalhadores pobres), obrigados a pedir dinheiro a juro alto, o que os torna cada vez mais ricos! (É por isso que a Alemanha nunca pode ser nosso parceiro e também não estou a ver os trabalhadores alemães a abdicar de cem ou duzentos euros mensais para “engordar” um pouquito o nosso vergonhoso salário mínimo!). O sindicalismo dos nossos dias anda a reboque, fora de tempo, servindo muitas vezes apenas de passaporte para “férias” dos seus dirigentes, que enchem a boca de solidariedade virtual, em vez de nos dizerem que, para sairmos da situação em que estamos, temos que contar connosco, ser sérios e exigentes! Não é de protestos em Lisboa nos fins-de-semana e de greves (em sectores que prejudicam mais severamente quem trabalha) que Portugal precisa! Muito menos precisa de sindicalistas que se deixam instrumentalizar pelos partidos políticos… Este desabafo prévio (escrito com alguma raiva) tem a ver com a minha discordância com as “acções de rua” que os sindicatos portugueses agendaram para os próximos tempos, numa pretensa luta contra um Governo demissionário, que não lhes satisfazia (e agora não pode satisfazer-lhes) as vontades… Enquanto esperamos por eleições livres, as lutas que decorrem e se avizinham só servem para denegrir e desprestigiar o movimento sindical, que deve lamentar-se pelos “iluminados” que o representam. Neste momento não há interlocutor válido para negociar. A luta política de todos nós, incluindo os sindicalistas deve ser feita enquanto cidadãos livres, no espaço partidário, fora dos sindicatos… O Governo caiu! Morreu! (felizmente!) O nosso povo diz (e muito bem) que nos mortos não se bate! Este comportamento, de luta contínua, dos nossos sindicatos só serve os que querem o seu desaparecimento! Embora isso não me agrade muito, pagava para ver (um mês) Jerónimo de Sousa primeiro-ministro e Carvalho da Silva ministro do trabalho! Talvez nessa altura deixasse de haver CGTP-IN e passasse a haver CGTP-OUT! Que saudades eu tenho daqueles (na altura apelidados de) larápios que nos “fanavam”a carteira, mas numa qualquer esquina deixavam os documentos! (até essa réstia de ética desapareceu!)

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