segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ó rego, amarelinha!

Esta “farsa”orquestrada por Passos Coelho e pelo PSD com a hábil conivência do PS de José Sócrates (no seu próprio interesse, para “legitimar” o mexer no nosso bolso já depauperado, em defesa do “interesse nacional” de uns quantos privilegiados, deuses terrenos que, pelo facto de o serem, têm direito às nossas orações, aos nossos sacrifícios e aos prazeres do Olimpo) quase nos faz sentir culpados pela “desgraça” que se abateu sobre o País, levando-nos a acreditar que foram os baixos e médios salários e as reformas adquiridas no final do necessário tempo de serviço (nunca inferior a 36 anos e 55 anos de idade) que levaram à actual situação de estagnação do desenvolvimento e de crise financeira.
As peripécias da negociação do Orçamento fazem-me lembrar os meus tempos de criança em que o meu pai me encarregava de andar à frente das vacas (depois de se certificar que eram mansas) enquanto procedia à lavragem das terras que hoje, juntamente com todas as outras que lhes são confinantes, pertencentes a outros agricultores, se encontram incultas por não ser rentável a sua exploração, a partir do momento em que os nossos ministros da Agricultura decidiram que Portugal devia receber subsídios para não produzir e penalizar quem insistisse nas lides agrícolas, obrigando-o a viver na miséria.
Nesse tempo era comum lavrar os terrenos com charruas puxadas por uma junta de bois (não dos actuais, porque esses escrevem-se com Y) ou de vacas, normalmente de pelo amarelo (as amarelinhas, como o meu pai lhes chamava). Durante as lavragens, com alguma frequência uma das vacas, por cansaço, por teimosia, por fome ou por qualquer motivo que só ela sabia, atrasava-se um pouco e daí resultava que a charrua saísse do sítio certo…
Nessa altura o meu pai, com voz de comando de oficial que nunca foi, (porque serviu a Pátria como soldado) dizia “ó rego amarelinha!”e as vacas como que por magia retomavam a marcha certa (uma delas no rego). Se não obedecessem prontamente, picava ligeiramente no traseiro, com uma aguilhada que sempre empunhava, a vaca que queria ficar para trás e tudo se resolvia, durante um tempo, até que uma das vacas voltasse a desatinar…
Era assim que se conseguia uma boa lavragem… e, com mais ou menos picadelas no rabo, as vacas eram sempre premiadas com uma boa refeição de erva fresca.

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