domingo, 5 de fevereiro de 2012

Carnaval

O Zé Fagulha é uma figura típica de uma aldeia do interior. Diz que vê muito mal e com isso justifica o seu semblante sempre de testa franzida e cabeça inclinada e avançada em relação aos ombros.
Quando alguém lhe diz para se endireitar ele responde com um manguitinho do dedo médio, devidamente executado e não diz mais nada.
Ontem, o Fagulha foi à tasquinha/mercearia do tio Aníbal (o Jumbo lá do sítio) para aviar uns azeites e umas bolachas, e ficou surpreendido porque a TV, excepcionalmente, estava ligada. De repente virou-se para a filha (que anda na Universidade, mas nos fins de semana toma conta do comércio) e disse-lhe:
- Olha lá ó cachopa, aquele que esta ali na televisão não é o ministro das finanças?
- É sim senhor, respondeu a rapariga.
- Ele está de óculos ou de olheiras?
- Deixe-se de brincadeiras…
- Não entendo nada do que ele está a “prá li”a arengar…
- Pudera! O senhor não andou a estudar! Leia as legendas. Ele está a falar Inglês que é para o perceberem no estrangeiro. Agora tio Zé, todos os assuntos importantes são tratados em Inglês que é uma língua que todos percebem…
- Ahhhhhhh! Está bem, está bem… disse com desdém.
Terminada a conversa o Fagulha dirigiu-se ao balcão para beber o seu copinho da praxe e deparou com um pequeno grupo de jovens que estavam a falar da “ponte”no Carnaval. Uns contra e outros a favor, a discussão estava acesa, o que “prendeu” o tio Zé por ali, porque é muito curioso e gosta de uma “rixazinha à moda antiga”.
A dada altura um dos jovens perguntou-lhe:
- Onde vai ver o Carnaval, tio Zé?
- Fico em casa, está muito frio e até se me arrepia a espinha só de ver aquela gente na rua, de tanguinha, com este gelo! Eu gostava mais do nosso carnaval, mas esse foi-se, incapaz de resistir à invasão das tangas e dos “tangas”.
-Isso é que é falar, ó Fagulha. Razão tem o Passos Coelho, que pouco a pouco acaba com as festas, com os feriados, com os preguiçosos dos funcionários públicos, com …, com…, com …
De quando em vez os outros jovens (seguindo as pegadas do ministro e muito provavelmente para impressionarem a tasqueira/universitária) soltavam uns yes, all right, good, fine, ok … que começaram a irritar o Fagulha.
Vendo que o jovem nunca mais acabava de elogiar a ação de Passos Coelho, o tio Zé, ainda com Gaspar a “azucrinar-lhe” a memória, dirigiu-se para a porta e exclamou:
-Não estou a perceber tudo, mas não quero ser carta desse baralho. Vão falar Inglês pró carvalho!

Post scriptum
Falam em Inglês os governantes
Em Castelhano os da bola
Parecem um bando de pedantes
Avariadinhos da tola!

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