quarta-feira, 10 de junho de 2015

Do trabalho ao lazer

Do trabalho ao lazer
Por Celso Neto

Por este andar
Se o Coelho continuar
Ainda vamos ter que pagar
Para trabalhar...
Com a desvalorização do trabalho
E o aparecimento do Deus capital
As pessoas são uma carta fora do baralho
Mas há quem considere isso normal!
Hoje vou contar-vos a história da Micas
Que sempre “ serviu” em casas ricas...
Dizia ela em pose estudada:
Moro numa casa onde não falta nada!
Piscina coberta com água quente
Jardins paradisíacos em redor
Se vocês vissem aquela gente...
É do melhor!
Tenho cama e mesa, roupa lavada
Amplos salões, para limpar
Uma capela em talha dourada
Onde me deixam ir rezar!
“Lazereio” até alta madrugada
Até me esqueço que sou criada
Sirvo manjares a ilustres convidados
Que chegam de todos os lados
Sou especialista em boas maneiras
Passo a ferro manhãs inteiras
Ouço “recados” todo o dia
Mas com etiqueta e cortesia
O sindicato “obriga-me” a receber por trabalhar
Mas eu penso que tenho que pagar...
O trabalho é o meu lazer
E era assim que devia ser...
Só pago cem euros mensais
Para ter isto tudo...e ainda mais!
A roupinha do corpo é-me ofertada
Fora de moda, mas pouco usada
Os “elogios” do meu patão
Valem pra cima de um dinheirão!
Viajo em carros de alta cilindrada
Tudo à borla, sem pagar nada!
Quando sirvo os senhores à mesa
É uma beleza...
O cheirinho é tão bom
Que até o REDON (restos de ontem)
Que saboreio ao almoço e ao jantar
Me sabe a caviar...
Quando, de madrugada, me deito
No meu leito
De pau santo
As noites são um encanto...
Quando faço xixi no penico
Sinto um prazer infinito!
Toco piano e falo francês
Tudo graças ao senhor Marquês
E foi graças à senhora duquesa
Que eu aprendi a servir à mesa!
Quanto não custava este “diploma”
Mesmo com o acordo de Bolonha?
É por isso que eu devo pagar
Para trabalhar!
(Assim falava a velha “Mika” para uma ex-vendedora de krika, que por sua vez dizia assim...Trabalhar sempre foi prazer pra mim!)

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